Relato do educador
Audiovisual
Os arquétipos cinematográficos
Postado em 22 de janeiro de 2019
Qual a semelhança entre os personagens Harry Potter, Simba e Luke Skywalker? O que Rony, C-3PO e Timão e Pumba tem em comum?
Todos são arquétipos, heróis e pícaros respectivamente, e fazem parte do nosso inconsciente. Tratam-se de padrões usados como base para a criação da maioria dos personagens que conhecemos, seja no cinema ou qualquer outro tipo de expressão artística que se baseie em mitologia.
Mas a questão fundamental é: O que são arquétipos?
Carl Gustav Jung, psiquiatra e psicólogo suíço desenvolveu a teoria do inconsciente coletivo, onde afirma que o ser humano já nasce com um pré-conhecimento, resultado de experiências vividas pelos nossos antepassados. A partir desse conhecimento, surgiram modelos denominados posteriormente por Joseph Campbell como arquétipos, palavra de origem grega arché, que significa marca ou impressão.
Joseph Campbell foi um especialista em mitos que em 1949 publicou o livro O Herói de Mil Faces, muitos e muitos anos depois esse estudo ajudou o roteirista Christopher Vogler a publicar um dos livros mais importante para os roteiristas: A Jornada do Escritor.
Neste livro, Vogler explica os principais arquétipos e como eles aparecem nos filmes, principalmente nas narrativas Hollywoodianas.
Contudo, é importante ressaltar que o arquétipo é como uma máscara, o roteirista "veste o personagem" de acordo com a necessidade da história.
Os arquétipos mais comuns são:
- Herói – A palavra vem do grego "proteger e servir", é o arquétipo que guia a história, sai do mundo comum, atravessa o limiar e se sacrifica de alguma forma pelo bem dos outros. Geralmente é o protagonista justamente por ser o personagem que mais gera identificação com o público. Exemplos: Harry Potter; Nemo, Forrest Gump.
- Mentor – É aquele que guia o herói, que ensina algo de valioso para que o mesmo possa prosseguir em sua jornada. O mentor geralmente é mais velho ( mas não obrigatoriamente) e mais sábio, pode ser um herói de uma jornada anterior e por isso tem muito a ensinar. Exemplos: Dumbledore, Yoda, Senhor Miyagi.
- Guardião do limiar – Um dos desafios que o herói deve enfrentar para alcançar seu objetivo. Não precisa ser um personagem, pode ser um lugar, uma situação etc. Exemplos: Os tios de Harry Potter, o policial que aborda Marion em Psicose, a chegada do som no cinema para Don Lockwood em Cantando na Chuva.
- Arauto – O arauto é o arquétipo que empurra o herói a avançar na história, é ele quem traz uma notícia ou um acontecimento que impulsiona o personagem para se lançar na aventura. Da mesma forma que o guardião do limiar, o arauto não precisa ser necessariamente um personagem, podendo ser um acontecimento. Exemplo: A chegada de EVA em Wall - E, a morte da esposa em UP- Altas Aventuras, as cartas de Hogwarts.
- Camaleão – O camaleão é um dos arquétipos mais difíceis e mais interessantes de se usar em uma narrativa. Ele, aos olhos do herói, está sempre mudando de forma e deixa a dúvida se é aliado dele ou do vilão da história. Exemplos: Dr. Malcolm Crowe em O Sexto Sentido, Tony Wendice em Disque M para Matar, Loki em Os Vingadores.
- Sombra – É o arquétipo do vilão ou inimigo. Seu objetivo normalmente bate de frente com o objetivo do herói, ele pretende destruí-lo. Exemplos: Coringa, Norman Bates, Darth Vader.
- Pícaro – Trata-se do alívio cômico da narrativa, o arquétipo do pícaro para dar aquele alívio quando a história está tensa demais, porém outra característica importante do arquétipo de pícaro é que ele faz as suas piadas com tom de crítica, ou seja, fala de modo descontraído aquilo que ninguém mais tem coragem de falar. Exemplos: Cosmo Brown em Cantando na Chuva, Gênio em Aladin, BB-8 em Star Wars.
Agora que sabemos o que são arquétipos, faça o seguinte exercício, preste atenção nos personagens no próximo filme que assistir e veja se eles se encaixam em alguns dos arquétipos propostos por Campbell e Vogler. A sua experiência com o cinema nunca mais será a mesma ;)
por Jéssica Silva