
Breve história dos musicais (Parte 2)
Os anos 1920 e 1930 foram um marco para o desenvol...
Atividades extramuros e continuadas têm se mostrado uma importante direção para os núcleos educativos de vários museus. Por tal motivo, a partir de 2017, o Núcleo Educativo (que já realizava ações do mesmo gênero de forma mais concisa) tem a ideia de realizar ações com um tempo mais longo e maior aprofundamento no campo audiovisual. Concomitante a isso, a Supertendência de Desenvolvimento Social investigou a possibilidade de oferta de oficinas para os moradores dos conjuntos habitacionais. Tal atividade resultou no documentário “Condomínios da Memória”, que pode ser conferido ao final do texto.
Neste texto, apontaremos o processo educativo do museu e ainda analisaremos as potencialidades deste tipo de experiência. O objetivo da oficina foi criar uma ponte entre o audiovisual e a comunidade dos participantes, onde a comunicação será de dentro para fora, assim trazendo a tona que o cinema pode ser feito por todos para todos.
Os alunos foram estimulados artisticamente a partir do documentário. A metodologia do curso transitou entre aspectos práticos e teóricos. A partir do conhecimento das diversas áreas do documentário, os alunos escolheram áreas que mais se identificavam, tais como a fotografia, o som, a produção, trilha ou como personagens. A proposta era de que, ao final do processo, os alunos produzissem um documentário a partir de seus anseios.
Em um primeiro momento, foram apresentados alguns aspectos teóricos da história do cinema. Investigados sobre o interesse do curso, os participantes apontaram que estavam ali para contar a história deles. Sendo assim, partimos do surgimento da linguagem clássica do cinema e da ruptura com a linguagem de documentário. A proposta foi a de investigar as possibilidades dos dois tipos de linguagem; a fictícia e a documental. O registro em documentário mostrou-se de maior interesse para o grupo enquanto possibilidade de criação de um documento audiovisual.
Nos primeiros encontros, os participantes apontaram que gostariam de dominar a técnica para que eles pudessem contar seus relatos da forma mais autoral possível. Por conta de tal dinâmica, ficou estabelecido que a construção do conteúdo teórico e prático seria pensada, com o grupo, de acordo com as demandas de sua própria produção.
Foram mostrados alguns trechos de documentários, com a intenção de demonstrar de forma mais didática tais possibilidades. Apesar de não estabelecermos uma resposta fechada sobre o tema, apontamos neste primeiro encontro o percurso histórico do cinema. Do surgimento das primeiras realizações cinematográficas – que poderiam ser pensadas como um proto-documentário - do surgimento e posterior hegemonia do desenvolvimento da linguagem da ficção, e as propostas para o desenvolvimento da linguagem documental. Para ilustrar a discussão utilizamos de exemplos como os irmãos Lumière, o diretor Méliès e ainda David Griffith.
Posteriormente abordamos o segundo salto dos documentários a partir das abordagens dos anos 20. Tais inovações como o revelamento da câmera, a chegada do som portátil e a ligação com a antropologia trouxeram novos exemplos para a sala de aula, tais como; Grierson, Robert Fahertuy e Vertov.
Tal formação teórica apontou para possibilidades práticas, de forma que ficou estabelecido em um primeiro momento que os participantes teriam uma primeira experiência a partir do recurso de entrevistas. No qual ficariam divididos entre os papeis de entrevistados e entrevistadores. Já neste primeiro exercício os participantes receberam câmeras e apreenderam algumas das técnicas básicas de entrevistas. Ficou nítido que o grupo desejava a construção de um documentário baseado prioritariamente baseado em relatos orais. Percebendo que alguns participantes estavam apontando uma vontade de serem personagens do filme, pensamos na necessidade de entrevistas dentro do documentário. Iniciamos o terceiro encontro elaborando as principais características de uma entrevista de documentário, frisando o distanciamento da entrevista jornalística.
Posteriormente o material foi comentado ressaltando os acertos e as falhas do processo. Pensando que a intenção desde o inicio era que os alunos participassem o máximo possível das etapas de captação no filme, manipulando conhecimentos dos equipamentos técnicos. Neste encontro, dividimos os alunos por interesses, entre som, fotografia, iluminação e entrevista. Comentamos o funcionamento e operação de cada equipamento. Além disto, apresentamos soluções caseiras para uma melhor captação áudio visual com equipamentos que os participantes teriam em casa.
Em um segundo momento, resolvemos estender o desafio de captação. Propomos o seguinte modelo de registro para as próximas aulas; de registrar o que significa morar em conjuntos habitacionais, recorrendo aos registros orais e ao registro somente das imagens sem recorrer os recursos de áudio.
Com o intuito de aprofundar o processo, começamos a trabalhar a ideia de construção de um roteiro cinematográfico para o documentário. Falamos sobre a importância da escolha do tema o que deveria ser levado em conta (os alunos escolheram como tema “como é viver nos conjuntos habitacionais”).
A partir destes dois tópicos, apontamos a importância de pensarmos o tom anteriormente no momento da construção do roteiro. Além disto, trabalhamos como construir suposições dentro de um documentário e ainda a importância de criar uma relação com o entrevistado. Neste encontro fizemos como exercício prático a construção do roteiro em sala de aula. Distribuímos 10 post its para cada aluno e pedimos que escrevessem perguntas sobre o tema escolhido em metade e na outra metade dos post its colocassem imagens que representam como é morar nos conjuntos habitacionais. Posteriormente montamos de forma coletiva o roteiro, agrupando ideias ou temáticas.
Uma vez dividida a equipe de filmagem e com o roteiro em mãos e o domínio da linguagem os participantes decidiram criar o registro das imagens. Este momento de captação aconteceu a partir de duas vertentes; o da entrevista e o do registro livre.
Sobre a entrevista os moradores decidiram as locações os entrevistados e aplicaram os conhecimentos que haviam adquirido durante o período do processo. Já o registro livre foi feito durante todo o processo do projeto, os participantes levavam para casa câmeras portáteis e registravam o cotidiano dos moradores. Os dois modelos de registro compuseram o corte final do filme.
Apontamentos finais
Ficou perceptível, que nesta experiência de uma metodologia que buscava uma interação entre o ensino em museus e a linguagem áudio visual que a construção do conhecimento não deve ser apresentada de forma hierárquica e fechada. Muitas vezes quando elaborados projetos, desenhamos seu esqueleto e muitas vezes o conteúdo acaba por ficar engessado e constantemente não consegue atingir o publico de forma satisfatória.
Por Ícaro San Carlo
Os anos 1920 e 1930 foram um marco para o desenvol...